«Foi nos livros que encontrei o Universo: assimilado, classificado, etiquetado, pensado, temível, ainda; e confundi a desordem das minhas experiências livrescas com o curso fortuito dos acontecimentos reais. Daí veio esse idealismo do qual levei trinta anos a desfazer-me.»
Um dos fascínios de As Palavras é descobrir essa referência mundial que é Sartre quando ainda só respondia pelo nome de Jean-Paul: um menino que nada conhecia de mais divertido do que brincar a ser bem-comportado e que por isso nunca chorava, quase não ria e não fazia barulho.
Órfão de um pai que nunca conheceu, mimado pela mãe, devota dos seus cabelos loiros cacheados qual querubim, e tecendo uma cumplicidade intelectual singular com o avô materno, Jean-Paul Sartre cedo se encantou pelo livro enquanto objeto físico e, depois, pelos significados que precocemente foi decifrando nas letras, palavras e frases neles impressas. Os livros foram os seus pássaros e ninhos, os seus animais domésticos, o seu campo. «A biblioteca era o mundo colhido num espelho; tinha uma densidade infinita, variedade, imprevisibilidade», comenta nesta autobiografia que, em Portugal, teve apenas uma tradução brasileira adaptada para português europeu e cuja última edição data do início dos anos 80. A presente tradução da obra, publicada originalmente em 1964 – ano em que Sartre foi distinguido com o Nobel e o recusou receber –, é de Diogo Paiva.
O livro já se encontra em pré-venda e estará disponível nas livrarias a 19 de setembro.
SOBRE O LIVRO
Jean-Paul Sartre era uma criança de colo quando o pai morreu. Esse acontecimento, considera, moldou definitivamente a sua vida: se a mãe se viu acorrentada ao triste papel de jovem viúva, ele cresceu livre, adorado por todos, acolhido em especial por um avô dedicado que lhe abriu as portas da sua biblioteca e o convidou a explorá-la. «Comecei a minha vida como provavelmente a irei terminar: no meio dos livros», lemos nestas páginas dadas à estampa poucos meses antes de a Academia Sueca anunciar a atribuição a Sartre do Nobel da Literatura, em 1964. Evocando a França provinciana do período que antecedeu a Primeira Guerra Mundial e uma infância entregue a uma imaginação sem limites, alimentada pela leitura e pela descoberta da escrita, As Palavras é simultaneamente o retrato de um tempo e uma brilhante autoanálise de um dos maiores pensadores do século xx.
SOBRE O AUTOR
Jean-Paul Sartre nasceu em Paris a 21 de junho de 1905. Em 1924 ingressou na École Normale Supérieure, onde despertou o seu interesse pela filosofia e conheceu aquela que viria a tornar-se a sua companheira de vida, Simone de Beauvoir. Em 1938 publicou o seu primeiro romance, A Náusea, texto centrado no tema do absurdo da existência que não só alcançou imediato êxito literário como desde logo anunciou Sartre como um dos expoentes do pensamento filosófico francês do século xx. Desdobrando a sua atividade literária pelos mais diversos géneros, destacam-se da sua obra os ensaios O Ser e o Nada e Crítica da Razão Dialética, peças de teatro como As Moscas e As Mãos Sujas ou a autobiografia As Palavras. Em 1964 foi galardoado com o Prémio Nobel da Literatura, que recusou como protesto contra os valores da sociedade burguesa. Morreu a 15 de abril de 1980, em Paris.