«Um monólogo interior vivo, denso, veemente. Um romance de formação, ou antes de deformação, vindo de uma desconhecida», escreveu em 1974 o Le Monde, considerando-o a «revelação da primavera». Em Os Armários Vazios, Annie Ernaux é já a etnóloga de si própria que viríamos a reconhecer nos seus livros posteriores, apesar de nesta obra iniciática ainda não se assumir declaradamente como protagonista.
Annie responde aqui pelo nome de Denise, personagem cuja biografia em tudo se confunde com a da autora: os pais de classe baixa, «feios, miseráveis, labregos», vistos à lupa em A Vergonha; os tempos do colégio interno, também evocados em Memória de Rapariga; a gravidez precoce e indesejada, cujo destino se lê em O Acontecimento. O que encontramos é alguém dividido em três mundos. Primeiro, a filha do merceeiro que só tomava banho uma vez por semana, depois a melhor aluna da turma, sempre. Secretamente, a adolescente sonhadora, com a sexualidade à flor de pele e a mente em alvoroço de tantos sentimentos contraditórios e condenáveis. «Não ser capaz de amar os próprios pais, não saber porquê, é insuportável», confessa neste livro, com tradução de Tânia Ganho.
O livro já se encontra em pré-venda e estará disponível nas livrarias a 4 de abril.
SOBRE O LIVRO
Esta é uma história de rutura social. Denise Lesur tem vinte anos e é a primeira da sua família a frequentar o ensino superior. Os pais, proletários e com escassa instrução, pouco têm que ver com os burgueses, educados e com acesso à cultura, a que ela está prestes a juntar-se. Sozinha no dormitório, enquanto recupera de um evento doloroso, Denise reflete sobre o seu crescimento, todos os sacrifícios feitos pelos pais, a estranheza cada vez maior em relação às suas origens e a raiva que transporta por se ver marcada pelo fracasso. Os Armários Vazios foi o primeiro romance publicado por Annie Ernaux, em 1974, e nele surgem já as sementes daqueles que serão os grandes temas da sua obra – o choque de classes, a condição da mulher, o trauma –, num questionamento tenaz da identidade.
SOBRE A AUTORA
Annie Ernaux nasceu em Lillebonne, na Normandia, em 1940, e estudou nas universidades de Rouen e de Bordéus, sendo formada em Letras Modernas. É atualmente uma das vozes mais importantes da literatura francesa, destacando-se por uma escrita onde se fundem a autobiografia e a sociologia, a memória e a história dos eventos recentes. Galardoada com o Prémio de Língua Francesa (2008), o Prémio Marguerite Yourcenar (2017), o Prémio Formentor de las Letras (2019) e o Prémio Prince Pierre do Mónaco (2021) pelo conjunto da sua obra, destacam-se os seus livros Um Lugar ao Sol (1984), vencedor do Prémio Renaudot, e Os Anos (2008), vencedor do Prémio Marguerite Duras e finalista do Prémio Man Booker Internacional. Em 2022, Annie Ernaux foi distinguida com o Prémio Nobel de Literatura.