Obra esgotada, datando a última edição de 1992, Lendas de Santos, de Eça de Queiroz, centra-se nas histórias de três figuras: S. Cristóvão, Santo Onofre e S. Frei Gil. Naquilo que parece ser uma espécie de golpe irónico do destino, o autor que antes reivindicara «destruir as falsas interpretações e falsas realizações que lhe dá [ao mundo] uma sociedade podre» envida agora esforços para reconstruir estas biografias.
O livro já se encontra em pré-venda e estará disponível nas livrarias a 2 de junho.
Na sua conhecida prosa fulgurante, Eça é capaz de pintar paisagens riquíssimas das gentes da Idade Média, os costumes no Egipto ou a vivência da calhandra de Vouzela para dar vida ao percurso iluminado de cada um dos seus santos. Mas desengane-se quem coloque em causa a profunda crítica que o autor de O Crime do Padre Amaro e A Relíquia vinha tecendo aos poderes instalados da Igreja: nestas Lendas de Santos, Eça de Queiroz não deixa de sublinhar o desvirtuamento dos valores cristãos, exemplificados em cada uma destas personagens. Nesta edição baseada em manuscritos e cópias de manuscritos, a fixação do texto e notas são de Helena Cidade Moura.
SOBRE O AUTOR
Eça de Queiroz nasceu a 25 de novembro de 1845, na Póvoa de Varzim, e é considerado um dos maiores romancistas de toda a literatura portuguesa, o primeiro e principal escritor realista português, renovador profundo e perspicaz da nossa prosa literária. Entrou para o Curso de Direito em 1861, em Coimbra, onde conviveu com muitos dos futuros representantes da Geração de 70. Terminado o curso, fundou o jornal O Distrito de Évora, em 1866, órgão no qual iniciou a sua experiência jornalística. Em 1871, proferiu a conferência «O Realismo como nova expressão da Arte», integrada nas Conferências do Casino Lisbonense e produto da evolução estética que o encaminha no sentido do Realismo-Naturalismo de Flaubert e Zola. No mesmo ano iniciou, com Ramalho Ortigão, a publicação de As Farpas, crónicas satíricas de inquérito à vida portuguesa. Em 1872, iniciou a sua carreira diplomática, ao longo da qual ocupou o cargo de cônsul em Havana, Newcastle, Bristol e Paris. Foi, pois, com o distanciamento crítico que a experiência de vida no estrangeiro lhe permitiu que concebeu a maior parte da sua obra romanesca, consagrada à crítica da vida social portuguesa e de onde se destacam O Primo Bazilio, O Crime do Padre Amaro, A Relíquia e Os Maias, este último considerado a sua obra-prima. Morreu a 16 de agosto de 1900, em Paris.